O autismo ou Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de saúde caracterizada por bloqueios na maneira de expressar ideias e sentimentos, e ainda por comportamentos incomuns, como dificuldade de interagir, agitação, agressividade, interesse restrito e movimentos repetitivos. Os sintomas e níveis de comprometimento são variados. Há autistas com doenças e condições associadas (comorbidades); há outros independentes, com vida comum; e aqueles que não sabem que são autistas (nunca receberam o diagnóstico).
Uma pesquisa publicada pelo JAMA Psychiatry, em 2019, confirmou que entre 97% e 99% dos casos de autismo têm causa genética, sendo 81% de origem hereditária. Realizado com 2 milhões de indivíduos, de 5 países diferentes, o estudo científico sugere ainda que de 18% a 20% dos casos têm causa genética somática (não hereditária). O restante, aproximadamente de 1% a 3%, deve ter causas ambientais, pela exposição de agentes intrauterinos, a exemplo de drogas, infecções, trauma durante a gestação.
O sexo masculino é mais acometido. A proporção é de quase 5 meninos afetados para cada menina.
Os sinais do autismo podem ser identificados por volta dos 2 anos de idade, fase em que a criança interage mais com as pessoas e o ambiente. Nos casos mais graves, os sintomas são observados até em bebês. Contudo, as crianças com TEA têm sido diagnosticadas, geralmente, a partir dos 3 anos.
É importante iniciar o tratamento o quanto antes, mesmo que ainda seja uma suspeita clínica. Na infância, a neuroplasticidade (capacidade que o cérebro tem de se adaptar a mudanças, mediante vivências, necessidades, estímulos) é maior. Assim, a intervenção precoce melhora a qualidade de vida do paciente e aumenta muito as suas chances de ser uma pessoa produtiva e independente na vida adulta. Vale ressaltar que os autistas têm o desenvolvimento físico normal.
O autismo é identificado através do exame clínico, ou seja, observação comportamental e coleta de informações. Para tanto, alguns recursos podem ser utilizados: entrevista detalhada feita pelo profissional de saúde com os pais/cuidadores; visita desse profissional à escola da criança (observação do comportamento em ambiente social e lúdico); avaliação de fotos e vídeos da criança; e análise de dados do histórico familiar (verificar se há outros casos de autismo ou de outros transtornos de desenvolvimento ou neuropsiquiátricos).
Observação dos marcos de desenvolvimento
Desde os primeiros meses de vida, a criança gradativamente mostra a sua necessidade de interação. Ela tende, por exemplo, a virar a cabeça na direção chamada e a sorrir quando os pais falam com ela. São comportamentos do desenvolvimento típico da criança, por volta dos 6 meses de idade. Nesse período, a ausência de expressões faciais ou de reação aos sons já merece atenção especial.
Com 12 meses, a criança sabe quem são seus cuidadores e, para se sentir mais segura, busca-os com o olhar a todo tempo. Ela começa a articular algumas palavras e a imitar as expressões que as pessoas a ensinam, como fazer sons com a boca, piscar, e mandar beijo. Com 24 meses, ela junta palavras para se comunicar com pequenas frases.
Cada criança, obviamente, tem o seu próprio ritmo de desenvolvimento, mas a não correspondência a vários desses marcos de desenvolvimento pode ser um sinal de alerta. Contudo, o "achismo" não confirma o diagnóstico do autismo. É essencial consultar o pediatra e/ou psiquiatra para fazer uma avaliação clínica.
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Imagem do desenho “Pablo”. Produzida no Brasil e disponível no Netflix, a série de animação aborda o autismo, apresenta os desafios das crianças com TEA, e promove a inclusão de forma lúdica. |
1.Não manter contato visual, mesmo com pessoas que estejam bem próximas, como se sentisse desconforto;
2.Não atender quando chamada pelo nome;
3.Isolar-se e/ou não se interessar por outras crianças (dificuldade de interação social);
4.Alinhar objetos com frequência;
5.Ser muito presa a rotinas a ponto de entrar em crise;
6.Não brincar com os brinquedos de forma convencional ou brincar sempre com os mesmos brinquedos ou somente com partes deles;
7.Fazer movimentos repetitivos ou girar objetos sem função aparente;
8.Não falar por horas ou mesmo quando lhe fazem perguntas;
9.Dar gargalhadas e repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem se importar se está incomodando as outras pessoas;
10.Não compartilhar seus interesses e atenção; não apontar para algo ou não olhar quando apontamos;
11.Interesse restrito ou hiperfoco;
12.Não imitar;
13.Não brincar de faz-de-conta;
14.Não gostar de toque físico;
15.Referir-se a si mesma com a palavra "você";
16.Manter a mesma expressão no rosto e não entender gestos e expressões faciais de outras pessoas;
17.Ao falar, a comunicação é monótona e com tom pedante;
18.Não tem medo de situação perigosas, como atravessar a rua sem olhar para os carros;
19.Aparentemente não sentir dor e parecer gostar de se machucar ou de machucar os outros de propósito;
20.Levar o braço de outra pessoa para pegar o objeto que ela deseja;
21.Olhar sempre na mesma direção como se estivesse parado no tempo;
22.Balançar-se para frente e para trás por vários minutos ou horas ou torcer as mãos ou os dedos constantemente;
23.Dificuldade para se adaptar a uma nova rotina ficando agitado, podendo-se autoagredir ou agredir os outros;
24.Ficar passando a mão em objetos ou ter fixação por água;
25.Agitação extrema ao estar em público ou em ambientes barulhentos.
O tratamento para autismo é personalizado e interdisciplinar, já que nem todos os pacientes são afetados da mesma maneira. Além da psicologia, a criança pode se beneficiar com intervenções de fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia, entre outras áreas, conforme a sua necessidade. O apoio familiar é muito importante para que os exercícios sejam realizados diariamente, melhorando assim as capacidades da criança. Na escola, um mediador pode trazer grandes benefícios, no aprendizado e na interação social da criança.
A pessoa com autismo deve ser assistida por toda a vida. Para que esteja adequado às suas necessidades e às necessidades da sua família, o seu tratamento precisa ser reavaliado, periodicamente, pela equipe profissional de saúde que faz o seu acompanhamento.
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