A mesa do jantar está posta, mas não há ordem. As crianças não comem. As gargalhadas parecem não ter fim, assim como as migalhas de pão pelo chão da cozinha. Vez ou outra um dos filhos se levanta, vagueia pela casa e volta, sem respeitar o momento em família. No caos, alguém se excede e grita: "cheeeeega!". Alguém? Quem? A "louca" da mãe. Claro.
Que direito ela tinha de berrar daquela maneira, assustando a própria família e sendo mal-educada, mau exemplo, descontrolada e perturbadora da paz da vizinhança? Como ela podia ser tão sem noção, imprudente, amalucada mesmo?
Aquele grito não foi causado pelo circo que se instalou na hora da janta. Foi, na verdade, um grito de socorro, saído de suas entranhas, a maneira que ela encontrou de extravasar o estresse e a frustração que vinha carregando há dias sobre os ombros, inclusive, visivelmente arqueados para frente.
Após o grito, certamente ela sentiu vergonha, culpa, remorso ou qualquer sentimento negativo e angustiante. Ela não precisa de julgamento, nem precisa ser ridicularizada ou hostilizada. Ela precisa de compaixão. Talvez precise de um abraço, de colaboração ou até de uma fuga. Fuga? Fugir para onde? Como? Seu lugar, ela sabe, é junto dos filhos.
Após o grito, a ordem até se estabelece na mesa. Contudo, a desordem dentro da mente e do corpo exausto da mãe continua por lá, fazendo algum estrago. Ela não queria ter gritado, ela só queria escapar de como ela se sentia, da prisão física e emocional em que se encontrava. Ela queria ecoar sua insatisfação e sua natural inabilidade com o excesso de afazeres. Ela só queria ter um minuto da sensação de normalidade cotidiana e êxito materno.
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